Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho premiados em Cannes: os bastidores da campanha de sucesso de 'O Agente Secreto' no festival

  • 24/05/2025
(Foto: Reprodução)
A expectativa para o título em Cannes já se desenhava desde a montagem da obra, segundo Silvia Cruz, fundadora da Vitrine Filmes, que distribui os filmes do diretor no Brasil desde 2016. O diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho recebe o prêmio de Melhor Diretor pelo filme "O Agente Secreto" das mãos do diretor francês Claude Lelouch durante a cerimônia de encerramento da 78ª edição do Festival de Cinema de Cannes, em Cannes, sul da França, em 24 de maio de 2025. Valery HACHE / AFP Wagner Moura levou o prêmio de melhor ator por O Agente Secreto e Kleber Mendonça Filho foi reconhecido na categoria de melhor diretor pelo longa neste sábado (24) no Festival de Cannes, na França. Foi a primeira vez que um filme brasileiro levou o Cannes de melhor ator. A expectativa de que O Agente Secreto fosse premiado na cerimônia cresceu na última semana, depois de ter sido ovacionado por mais de dez minutos na sessão de estreia, em 18 de maio, e de ter saído do evento com dois acordos de distribuição fechados. 'Obra-prima', 'monumental': 'O Agente Secreto' é elogiado pela imprensa internacional após estreia em Cannes A Neon, que lançou Parasita e Anatomia de uma Queda, agora responde pela distribuição norte-americana de O Agente Secreto. Já a Mubi, que distribuiu Anora, será responsável pela exibição no Reino Unido, Índia e América Latina, exceto o Brasil. Antes da entrega da láurea principal neste sábado, o filme também venceu um dos prêmios paralelos do festival: o de melhor da seleção oficial pelo júri da Fipresci, principal associação de críticos de cinema do mundo. A associação reúne jornalistas de cerca de 50 países e é a responsável por essa premiação, que não faz parte da lista oficial de Cannes e foi criada por críticos de forma paralela. "Escolhemos um filme que tem uma generosidade romanística e épica; um filme que permite digressão, diversão, humor e caráter para evocar um tempo, um lugar e uma história rica, estranha e profundamente preocupante de corrupção e opressão", justificou o juri sobre sua escolha, anunciada na manhã deste sábado (24) Mendonça Filho já é um nome consolidado em Cannes. Seus três últimos longas — Aquarius (2016), Bacurau (2019) e Retratos Fantasmas (2023) — foram exibidos no festival. Bacurau, inclusive, venceu o Prêmio do Júri, terceira categoria mais importante da competição oficial. Ambientado em Recife em 1977, durante a ditadura militar brasileira, O Agente Secreto acompanha Marcelo, interpretado por Wagner Moura, um especialista em tecnologia que retorna a Recife após anos fora em busca de paz. Mas ele descobre que sua cidade natal esconde perigos e segredos inquietantes. 'O Agente Secreto': veja quando o filme brasileiro que ganhou os prêmios de melhor diretor e ator no Cannes 2025 deve estrear no Brasil A recepção da crítica foi elogiosa. A Variety destacou a capacidade do diretor de "nos transportar de volta àquela época, com seu calor opressivo e paranoia". O crítico da BBC, Nicholas Barber, classificou o filme como um "thriller político estiloso e vibrante" e um possível candidato ao Oscar. A expectativa para o título em Cannes já se desenhava desde a montagem da obra, segundo Silvia Cruz, fundadora da Vitrine Filmes, que distribui os filmes do diretor no Brasil desde 2016. "Desde o início, já pensávamos que esse seria o primeiro festival que iríamos tentar, tanto pelo histórico dos outros filmes do Kleber [no evento] quanto pelo cronograma de finalização, perfeito para estar pronto a tempo", diz. O festival exige que o filme seja inédito, ou seja, nunca tenha sido exibido em outros festivais internacionais ou na internet, para participar da competição pela Palma de Ouro. "Cannes é uma vitrine poderosa. Entrar nesse festival certamente traz visibilidade. Estar em Cannes já impulsiona toda a carreira do filme." Frevo na Croisette Um dos momentos mais comentados do festival foi a passagem da Orquestra Popular do Recife e do grupo Guerreiros do Passo pelo tapete vermelho. (Da esquerda para a direita) Roney Villela, a atriz brasileira Hermila Guedes, a atriz portuguesa Isabel Zuaa, o produtor brasileiro Fred Burle, o ator Carlos Francisco, a atriz brasileira Alice Carvalho, a atriz brasileira Maria Fernanda Candido, o ator brasileiro Gabriel Leone, o ator e produtor brasileiro Wagner Moura, a produtora francesa Emilie Lesclaux, o diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho, o coprodutor holandês Erik Glijnis, o ator Roberio Diogenes, a produtora executiva britânica Fionnuala Jamison e o produtor executivo francês Nathanael Karmitz chegam para a exibição do filme "O Agente Secreto" na 78ª edição do Festival de Cinema de Cannes, em Cannes, sul da França, em 18 de maio de 2025. Antonin THUILLIER / AFP O vídeo do cortejo dos passistas com a comitiva brasileira, incluindo o ator Wagner Moura — protagonista do filme — arriscando passos de frevo, viralizou nas redes sociais. A proposta de levar o frevo para a famosa avenida Croisette partiu da própria equipe de distribuição da Vitrine Filmes durante a montagem de O Agente Secreto. "Um dia me veio essa ideia: 'E se a gente fizesse um carnaval em Cannes?'", conta Bernardo Lessa, gerente de lançamento da distribuidora. Kleber Mendonça Filho: 'O Agente Secreto' foi filme 'difícil', mas experiência 'feliz' "Já sabíamos que o Brasil seria o país homenageado do ano. Tínhamos algumas indicações favoráveis. Tentamos várias marcas, vários parceiros — recebemos muitos 'nãos'. Mas não queríamos desistir, porque sabíamos que podia dar certo." O plano ganhou forma com o patrocínio da Embratur, da Secretaria de Cultura de Pernambuco e da marca Sol de Janeiro. "Ninguém da banda tinha passaporte. A confirmação do investimento veio pouco tempo antes, então tivemos que correr com tudo. Não era só trazer a banda, mas trazer a cultura: o bolo de rolo, a música, as sombrinhas de frevo. Foi toda uma produção. E o resultado foi muito maior do que a gente esperava", diz Lessa. "Cannes foi muito bom para o filme — a recepção foi excelente. Ele já foi comprado pela Neon e pela Mubi. Isso é ótimo porque já dá para os produtores uma garantia de retorno financeiro e também de distribuição. Principalmente nos Estados Unidos, onde, quando falamos das maiores premiações, é muito importante ter um distribuidor americano", explica. Intervenção no tapete vermelho não é novidade, inclusive para promover mensagens políticas. O próprio Kleber Mendonça Filho, no lançamento de Aquarius, utilizou o espaço privilegiado de Cannes para protestar contra o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. O marketing digital é uma ferramenta usada para ampliar a distribuição do filme, diz a jornalista Ana Paula Sousa, pesquisadora e colunista especializada em cultura. "A partir do momento em que o filme leva o frevo para o tapete vermelho, aumenta a chance de sair matéria num veículo de outro país falando sobre isso. Eventualmente, o distribuidor de outro país vai ter interesse no filme", afirma. "Vivemos a era das redes sociais. E acho que o Kleber, embora seja um cineasta ligado ao que se costuma chamar de 'cinema de autor', já mostrou há muito tempo que sabe lidar muito bem com as redes." A estratégia, segundo Sousa, ainda aguça a curiosidade do público que, mesmo antes do lançamento do primeiro trailer, já começa a falar sobre a produção. "Um filme é feito para ser visto por diferentes públicos — mas sempre para ser visto. Ele tem que mobilizar a atenção do público", diz. Ela lembra que a campanha de sucesso de Ainda Estou Aqui, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional e levou quase 6 milhões de brasileiros aos cinemas, começou no Festival de Veneza. "É natural que o filme do Kleber tente também se aproveitar desse bom momento do cinema brasileiro", afirma a pesquisadora. "Não é que essa estratégia cria coisas que não existem, mas se aproveita de elementos reais para aumentar a visibilidade em torno do filme e despertar interesse." Por que Cannes importa? Ana Paula Sousa afirma que a seleção para a Palma de Ouro é uma "conquista comparável a uma final olímpica". A visibilidade conquistada em Cannes costuma se traduzir em novas oportunidades para filmes produzidos fora dos cinco maiores estúdios de cinema — Universal, Paramount, Warner Bros., Disney e Sony. "Não existe nenhum festival do mundo com tanta imprensa. Nenhum tem um volume de matérias publicadas tão grande quanto o de Cannes", diz. 'A ficha ainda está caindo', diz produtora de 'O Agente Secreto' após premiação em Cannes Além do glamour, Cannes é mercado. O Marché du Film, evento de mercado do festival, é o maior polo de compra e venda de direitos cinematográficos do mundo. "Cannes ainda é a principal vitrine de cinema para filmes não hollywoodianos. E isso vai além do cinema de arte", explica. "As franquias já têm uma distribuição garantida. Mas no mercado onde uma empresa produz e outra distribui, Cannes continua sendo uma Meca." Ela aponta que o prestígio internacional repercute também no mercado interno. "Pode parecer colonial precisar dessa validação externa, mas também é natural. As pessoas pensam: 'Se está chamando a atenção de tanta gente, deve ser interessante'." Burburinho como estratégia A distribuição é uma das etapas mais determinantes da cadeia produtiva do audiovisual, afirma a pesquisadora Hadija Chalupe da Silva, professora de Cinema e Audiovisual da ESPM Rio e autora do livro O Filme nas Telas — A Distribuição do Cinema Nacional. Em sua pesquisa, Silva propôs quatro modalidades principais de comercialização de filmes no Brasil: grande lançamento, lançamento médio, lançamento de nicho e filme para exportação. Apesar de se sobreporem, essas estratégias ajudam a entender como os filmes são posicionados no mercado. "No modelo do blockbuster, o filme é lançado em muitas salas simultaneamente para atrair o público logo no início, evitar a pirataria e recuperar o investimento com rapidez", afirma. "Mas isso exige muito investimento. No Brasil, disputar de igual para igual com Hollywood é sempre um desafio." Já o lançamento de nicho segue lógica oposta: aposta na "cauda longa", com menos cópias e maior permanência em cartaz. O sucesso depende do boca a boca e da recepção inicial. "A primeira semana é crucial. As salas comparam a ocupação com a média do ano anterior. Se o filme atinge ou ultrapassa essa média, continua em exibição", detalha a pesquisadora. Por isso, os festivais de cinema são cruciais: eles são prestígio e ampliam as possibilidades de circulação dos filmes brasileiros. "Os festivais são espaços de descoberta. Revelam novos realizadores e obras com potencial de impacto na cinematografia", diz. "Dependendo de onde o filme é exibido, ele ganha chancela, ganha legitimidade." Assista ao trailer de 'O Agente Secreto' Produtora de 'O Agente Secreto' celebra os prêmios em Cannes

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2025/05/24/wagner-moura-e-kleber-mendonca-filho-premiados-em-cannes-os-bastidores-da-campanha-de-sucesso-de-o-agente-secreto-no-festival.ghtml


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