Com 100 dias para COP 30, maioria das obras de Belém ainda não foram concluídas
Daqui a exatos 100 dias, Belém recebe a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Ao menos 37 grandes obras urbanas estão em execução para preparar a cidade até o dia 10 de novembro: data de abertura da COP.
Porém, até este sábado (2), cerca de 80% dos projetos ainda não foram concluídos integralmente. Das 37 obras, apenas oito já tiveram trechos ou unidades entregues.
Das 17 escolas públicas prometidas pelo Governo do Pará para funcionar como hostels durante a COP, somente seis foram reformadas até o fim de julho de 2025. O prazo de conclusão das 11 instituições restantes não foi informado.
Das quatro etapas do projeto de duplicação da avenida Bernardo Sayão, executado pela Prefeitura de Belém, apenas uma foi entregue. A próxima fase tem conclusão prevista até o fim de 2025. O cronograma das obras das etapas restantes não foi divulgado.
O Parque da Cidade, previsto para ser o principal ponto de encontro entre chefes de Estado durante a COP, inaugurou uma das áreas em junho deste ano, voltada à prática esportiva.
O Mercado de São Brás e o Parque Linear da Doca também tiveram áreas ou trechos inaugurados durante cerimônias de entrega, porém seguem fechados.
Em entrevista ao g1, o secretário-executivo da COP 30 da Prefeitura de Belém, André Godinho, afirmou que, apesar da inauguração feita em dezembro de 2024, o Mercado de São Brás ainda tinha muitos pontos que precisavam de readequação.
Já o Parque Linear da Doca inaugurou a primeira quadra do total de oito que envolvem o canal da avenida Visconde de Souza Franco, em março de 2025. Porém, a área segue completamente gradeada - veja abaixo.
As demais entregas envolvem canais da Macrodrenagem da Bacia do Tucunduba, viadutos em Ananindeua e Marituba e pavimentação de avenidas e ruas em Belém e nos distritos. Confira mais abaixo detalhes das obras entregues até agosto de 2025.
📋 Nesta reportagem você vai ver também:
Quais as obras da COP?
Quais obras são essenciais para COP ocorrer?
Quais obras foram concluídas até agosto?
Quais são as próximas entregas?
Por que a lista de obras ficou maior?
🚧 Quais as obras da COP?
As 37 grandes obras urbanas são executadas por diferentes entes, como Prefeitura de Belém, Governo do Pará, Governo Federal e iniciativa privada, com apoio do setor público.
Somados, os empreendimentos estão distribuídos em quatro áreas de finalidade: hospedagem, desenvolvimento urbano, mobilidade e saneamento.
Segundo levantamento feito pelo g1, a área de desenvolvimento urbano é a que mais tem projetos e recursos. São 14 obras com orçamento de R$ 3,2 bilhões.
Já mobilidade e saneamento são as categorias que atingem o maior número de bairros. A pavimentação de ruas e avenidas envolve 26 bairros, e gestão de resíduos sólidos, educação ambiental e inovação em bioeconomia abrangem 37 bairros, respectivamente.
Veja na arte abaixo mais informações sobre as 37 obras da COP 30 em Belém ⬇️.
Os dados da tabela foram coletados a partir de informações divulgadas pelos anfitriões, Prefeitura de Belém, Governo do Pará e Governo Federal, e financiadores do evento. Também foram coletadas informações em documentos oficiais, como relatórios de gestão e no Portal da Transparência de secretarias
🎯 Quais obras são essenciais para COP ocorrer?
Do conjunto de 37 grandes obras em execução pelos governos federal, estadual e municipal, algumas são fundamentais para que a COP seja realizada em Belém.
A professora Olga Freitas, coordenadora do projeto "Megaeventos e Transformações Urbanas: Balanço Crítico e Perspectivas Para a COP 30 em Belém", diz que as obras podem ser categorizadas entre aquelas fundamentais para a COP e aquelas importantes para a cidade, independentemente do evento.
A pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA) cita como exemplo o Parque da Cidade como uma obra essencial, por abrigar as chamadas:
Zona Azul (área restrita para negociações diplomáticas)
Zona Verde (aberta ao público, com atividades científicas)
Com 86% de andamento, o Parque começou a receber, desde 3 de julho, a instalação das estruturas modulares da Zona Azul. Neste mês de agosto, o Governo do Pará deve entregar oficialmente o espaço à ONU e ao Governo Federal.
Outro espaço que precisa estar totalmente pronto até 10 de novembro é o Hangar Centro de Convenções. O local também fará parte da Zona Azul da COP 30.
Inaugurado em 2007, o Hangar passa por reforma para instalação de novos sistemas de refrigeração, energia solar e passarelas cobertas. As obras estão com 58% de andamento.
A construção da Vila COP 30 também é fundamental para a realização do evento por ser o espaço que vai acomodar líderes, chefes de Estado e representantes dos países participantes.
Assim como o Parque da Cidade e o Hangar, o Governo do Pará também é responsável pela execução da obra da Vila COP 30, que está com 29% de andamento.
Segundo a professora Olga Freitas, em outra categoria estão obras como a reforma do Complexo do Ver-O-Peso e do Mercado de São Brás, ambas conduzidas pela Prefeitura de Belém, com percentual de andamento em 98% cada uma.
A pesquisadora da UFPA explica que, independente da realização ou não da COP 30, essas obras são importantes para a cidade, assim como outras relacionadas à macrodrenagem, saneamento e asfaltamento.
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✅ Quais obras foram concluídas até agosto?
As obras da COP estão distribuídas em quatro categorias: hospedagem; mobilidade; saneamento; e desenvolvimento urbano.
🏨 HOSPEDAGEM
Das cinco obras de hospedagem, a reforma de escolas para servir de hostels na COP foi a única entregue até agosto de 2025. Seis unidades foram reformadas das 17 prometidas. Veja abaixo quais instituições foram reformadas:
✅ Escola General Gurjão (janeiro/2024)
✅ Escola Dr. Ulysses Guimarães (outubro/2024)
✅ Escola Dr. Aldebaro Klautau (fevereiro/2025)
✅ Escola Mestra Idalina Rodrigues Pereira (abril/2025)
✅ Escola Augusto Meira (maio/2025)
✅ Escola Paulo Maranhão (maio/2025)
O Governo do Pará não informou o nome, o percentual de andamento nem a previsão de término da reforma das 11 escolas restantes.
💧 SANEAMENTO
Das oito obras de saneamento, apenas a obra da macrodrenagem dos canais da bacia do Tucunduba teve unidades entregues. Confira:
✅ Timbó (janeiro/2025)
✅ Gentil Bittencourt 1º trecho (janeiro/2025)
✅ Cipriano Santos (maio/2025)
✅ Vileta (julho/2025)
✅ Leal Martins (julho/2025)
A macrodrenagem do Tucunduba, considerada a segunda maior bacia hidrográfica de Belém, tem como objetivo reduzir alagamentos na cidade, com serviços de drenagem, esgoto, paisagismo, passarelas, asfalto e terraplenagem.
As obras ainda estão em andamento nos canais: União (entrega estava prevista até maio), Gentil 2º trecho (setembro), Lago Verde (agosto), Sapucajuba e Caraparu (novembro).
🚗 MOBILIDADE
Das 10 obras de mobilidade, três já tiveram trechos ou unidades entregues até agosto: duplicação da Avenida Bernardo Sayão; construção de novos viadutos; e pavimentação e requalificação de ruas e avenidas em Belém.
A primeira etapa da duplicação da Bernardo Sayão, entre a rua dos Mundurucus e a avenida Fernando Guilhon, foi entregue em dezembro de 2024, pela gestão do ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL).
Segundo a Prefeitura de Belém, a segunda etapa, entre a rua Engenheiro Fernando Guilhon e a travessa Quintino Bocaiúva, está com 99,9% de andamento. São quatro etapas no total.
Em abril deste ano, o Núcleo de Gerenciamento de Transporte Metropolitano (NGTM) informou ao g1 a construção de cinco viadutos. Quatro em Ananindeua e um em Marituba.
✅ BR-316 com Ananin (julho/2023)
✅ BR-316 com Alça Viária (dezembro/2024)
✅ BR-316 com Independência (abril/2025)
✅ Mário Covas com Três Corações (maio/2025)
O viaduto da avenida Mário Covas, com a avenida Independência, em Ananindeua, está com 80% de andamento e tinha previsão de entrega para julho, prazo não cumprido.
A obra de pavimentação e requalificação de ruas e avenidas em Belém já concluiu os serviços em mais de 150 vias em bairros e distritos, segundo informou o Governo do Estado.
A maior parte dos investimentos na melhoria de ruas e avenidas de Belém vem por meio da Itaipu Binacional, com R$ 178 milhões. Os serviços estão com 45% de andamento.
🏙️ DESENVOLVIMENTO URBANO
Das 14 obras de desenvolvimento urbano, três já realizaram cerimônia de entrega de áreas específicas: Parque da Cidade, Parque Linear da Doca e Mercado de São Brás.
O Parque da Cidade, a obra com maior orçamento da COP (R$ 980 milhões), inaugurou no dia 27 de junho uma área de lazer com quadras esportivas, ginásio, anfiteatro, playground, skatepark e esplanada de fontes.
A entrega completa da primeira etapa do Parque da Cidade estava prevista para outubro. Porém, em evento com o presidente Lula em 14 de fevereiro de 2025, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), antecipou a conclusão para agosto.
O Parque Linear da Doca inaugurou no dia 31 de março uma das oito quadras que estão sendo adaptadas ao longo da avenida Visconde de Souza Franco. Porém, segundo ambulantes que trabalham no perímetro, a quadra foi fechada nos dias seguintes.
Questionado, o Governo do Pará informou que o espaço [XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX]. Com término previsto para fevereiro de 2026, o Parque da Doca está com 74% de andamento.
O Mercado de São Brás também já teve duas inaugurações: um pavilhão e uma praça em setembro de 2024 e a infraestrutura geral em dezembro de 2024. Enquanto isso, os feirantes permanecem em uma feira provisória aguardando a entrega definitiva do local.
A Itaipu Binacional, responsável pelo financiamento das obras do Mercado de São Brás, afirmou que a conclusão estimada era para julho de 2025 - prazo também não cumprido. Atualmente, as obras estão com 98% de andamento.
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🔮 Quais são as próximas entregas?
Faltando apenas 100 dias para a abertura da COP 30, ao menos 18 obras com datas de término divulgadas podem ser inauguradas em Belém. Veja a distribuição por áreas:
🏙️ 9 obras em desenvolvimento urbano
🚗 4 obras em mobilidade
💧 3 obras em saneamento
🏨 2 obras de hospedagem
📅 AGOSTO 2025
Para agosto, estão previstas entregas: Distrito de Inovação e Bioeconomia; Parque da Cidade; Modernização do Aeroporto; Revitalização Avenida Júlio César; Macrodrenagem canais Benguí e Marambaia; e Gestão de Resíduos e Inovação em Bioeconomia.
As obras do Parque da Cidade e Modernização do Aeroporto de Belém são os projetos mais avançados, ambos com percentual de andamento acima de 80%.
📅 SETEMBRO 2025
Em setembro, estão previstas entregas: Hotel Bristol Castanhal; Restauro do Complexo dos Mercedários; e a construção da 2ª ponte de Outeiro.
As construções do Hotel Bristol Castanhal e da segunda ponte ligando os distritos de Outeiro e Icoaraci estão com andamento acima de 70% até o fim do mês de julho.
📅 OUTUBRO 2025
Em outubro, o mês que antecede a Conferência do Clima, as obras com previsão de entrega são: Hotel Vila Galé; Terminal Portuário de Outeiro; Parque Igarapé São Joaquim; Mercado Ver-O-Peso; Porto Futuro II; Reforma Base Aérea; Terminal de Icoaraci; Esgoto do Ver-o-Peso; e requalificação de ruas e avenidas.
A reforma do Complexo do Ver-O-Peso, considerada a maior feira a céu aberto da América Latina, está com 98% de andamento. O espaço receberá obras de revitalização de boxes, nova cobertura e pavimentação, iluminação com LED e prevenção contra incêndio.
Outras obras ou estão sem data de término informada ou estão com calendário de inauguração pós-COP, como a construção do Terminal Hidroviário da Tamandaré, com previsão de inauguração para outubro de 2027.
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📈 Por que a lista de obras ficou maior?
Do momento da formalização do Brasil como país-sede da COP, em 11 de dezembro de 2023, até 2 de agosto de 2025, se passaram 600 dias (1 ano e 8 meses).
Neste período de mais de um ano e meio, o número de projetos e de recursos atrelados ao rol da COP 30 foi aumentando significativamente:
JUNHO 2024 (1º levantamento do g1):
13 projetos
R$ 4 bilhões
AGOSTO 2025 (levantamento atual):
37 obras
R$ 7 bilhões
O primeiro levantamento, divulgado pelo g1 em junho de 2024, identificou ao menos 13 projetos, que somavam mais de R$ 4 bilhões.
Atualmente, em agosto de 2025, esse número saltou para 37 obras, que somam mais de R$ 7 bilhões - valor que supera o orçamento do município de Belém para 2025.
Para a pesquisadora Olga Freitas, o aumento do número de obras é uma estratégia usada por parte dos gestores, já que a COP potencializa que os governos consigam fontes de financiamento não disponíveis em outras ocasiões.
Os recursos para as 37 obras vêm de diferentes fontes:
Governo Federal
Governo do Pará
Prefeitura de Belém
Itaipu Binacional
BNDES
Caixa Econômica Federal
Iniciativa privada
Fundos internacionais
Segundo a professora, o aumento do número de recursos também não é uma característica isolada do evento em Belém.
"Não é uma característica daqui, nem da COP, nem de Belém, o fato dos projetos aumentarem o preço. Isto já é uma característica mapeada e estudada dos chamados megaeventos, sejam eles de natureza esportiva, cultural, política, enfim", explica.
Olga Freitas defende ainda a existência de um portal de transparência que indique e justifique o motivo de cada obra ser uma "obra da COP".
A pesquisadora da UFPA afirma que não há atualmente um repositório onde seria possível encontrar a relação das obras em andamento pela Prefeitura de Belém, pelo Governo do Estado ou pelo Governo Federal.
"Não existe uma fonte oficial que tenha um portal da transparência da COP, com uma aba para o governo federal, estadual e municipal, onde a gente, enquanto pessoas comuns, pudesse saber qual era o projeto dessa obra e quanto custava", questiona.
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